Nota do Editor - As tochas estão sempre acesas

Em setembro de 2019, a Prefeitura do Rio mandou recolher livros das prateleiras da Bienal por achar que as capas e o conteúdo não eram apropriados.

 

Em 2020, foi a vez da Secretaria de Educação de Rondônia listar 43 obras que não deveriam ser permitidas nas escolas sob sua gerência.

Este ano, temos mais dois casos de censura, um deles envolvendo um dos principais prêmios literários do país, um de seus criadores e os autores premiados.

 

Cito primeiro o caso do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, premiado com o Jabuti em 2021, que está sendo recolhido de escolas em diversos Estados após alegações de que o livro possui conteúdo inapropriado para estudantes do Ensino Médio. Quando inapropriado é privar do debate sobre racismo e sexualidade os jovens em uma sociedade como a nossa, em que tanto o racismo como a violência sexual e de gênero atravessam lares e instituições.

E, com muita tristeza, também destaco o que está ocorrendo em relação ao Prêmio SESC: após a seleção do livro Outono de carne estranha, de Airton Souza, membros da diretoria do SESC, incomodados com a abordagem da relação homossexual entre dois garimpeiros na obra, demitiram o criador do prêmio, o escritor Henrique Rodrigues, e, além de não estarem cumprindo com as promessas feitas aos ganhadores da edição 2023, estão propondo mudanças no edital para 2024 (que já deveria ter sido lançado em janeiro).

A Editora Record, parceira do SESC no prêmio, já se manifestou em Nota oficial a respeito do caso: https://www.record.com.br/nota-oficial-sobre-o-premio-sesc-de-literatura/

 

Espero que as Secretarias de Educação voltem a assumir o papel de referência para a formação de cidadãos que entendam, respeitem e valorizem a diversidade. Algo que se constrói através do conhecimento, da experiência, da leitura de textos e contextos, do debate; não da censura.

E que o Prêmio SESC não tenha o triste fim que se desenha. Espero que a instituição SESC seja maior do que estas pessoas que hoje estão em cargos de poder.

 

Rodrigo Domit

Editor do blog

#notadoeditor