Câmara Brasileira do Livro anuncia vencedores do Prêmio Jabuti
Nota zero de jurado define ganhadores de melhor romance, e os livros dos jornalistas do Globo Mauro Ventura e Miriam Leitão foram premiados na categoria reportagem
18/10/2012 | Márcia Abos, de São Paulo
Numa reviravolta decidida por um dos três jurados, “Nihonjin” (Editora Benvirá), de Oscar Nakasato, foi o romance vencedor do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura brasileira. O “jurado C” — segundo o regulamento do Jabuti, a composição do júri só é divulgada após o prêmio ser entregue — optou por dar notas entre zero e 1,5 a cinco dos dez finalistas. A pontuação obtida somando as notas dos dois primeiros jurados mudou completamente, surpreendendo o público presente na apuração, realizada ontem na sede da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em São Paulo.
A avaliação mais baixa do “jurado C” foi para o romance “Infâmia” (Objetiva), de Ana Maria Machado: notas zero nas categorias enredo e construção de personagens e nota um na categoria estilo. O romance tinha sido o segundo mais votado na primeira fase do prêmio e, nesta fase final, recebeu cinco notas dez e uma 9,5 dos outros dois integrantes do júri — a avaliação mais alta entre todos os outros concorrentes.
O segundo e terceiro lugar da categoria romance foram respectivamente para as obras “Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), de Edival Lourenço, e “Estranho no corredor” (Editora 34), de Chico Lopes. A obra vencedora foi publicada graças ao Prêmio Benvirá, que escolheu o romance do desconhecido Nakasato entre 1.932 concorrentes. É o primeiro romance do professor de Ensino Médio e graduação.
— Ficamos chocados e desnorteados com as notas zero e meio de Ana Maria Machado — reconhece José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti, descartando a possibilidade de anulação do prêmio. — Não me senti confortável em questionar o voto do jurado C após a apuração. Se crio uma regra e dou a ele as cédulas para votar, não posso questionar a soberania de um voto feito dentro do regulamento. Dar as notas que bem entender é um direito do jurado, ainda que como curador eu não concorde com a estratégia que ele adotou. O resultado é inquestionável e não pode ser anulado. Me causa algum alívio saber que as obras vencedores foram bem pontuadas pelos outros dois jurados. Tínhamos dez ótimos finalistas.
O “jurado C” também deu notas até 1,5 para obras de Wilson Bueno (o mais bem votado na primeira fase), Luciana Hidalgo, Paulo Scott e Menalton Braff. Ele ainda deu notas cinco para Domingos Pellegrini, e entre 9,5 e dez para Julián Fuks. O romance vencedor do Jabuti foi publicado graças ao Prêmio Benvirá, que escolheu a obra do desconhecido Nakasato entre 1.932 originais concorrentes. Em segundo e terceiro lugar ficaram respectivamente os romances “Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), de Edival Lourenço, e “Estranho no corredor” (34), de Chico Lopes.
Na categoria reportagem, a obra vencedora foi “Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), de Miriam Leitão, colunista do GLOBO. Na mesma categoria, o repórter do GLOBO Mauro Ventura ficou em terceiro lugar, com “O espetáculo mais triste da Terra” (Companhia das Letras), depois de Tom Cardoso, que levou o segundo lugar com “O cofre do Dr. Rui” (Civilização Brasileira).
Ana Maria Machado disse que não sabia que o prêmio seria divulgado ontem e não tinha o que falar obre o caso.
— A única coisa que posso dizer é que o grande julgamento é do leitor. É ele que sabe se gosta ou do personagem. Um jurado é um leitor com poder neste momento, mas é só mais um leitor — afirmou a escritora.
Até o ano passado, os jurados do Jabuti só podiam dar notas de oito a dez aos finalistas. Segundo Goldfarb, a regra foi mudada este ano porque alguns jurados davam notas menores do que oito, implicando sua anulação. O curador diz que em 2013 o prêmio poderá voltar à regra antiga ou ter quatro jurados, descartando as notas mais baixas:
— O jurado C deu preferência aos iniciantes. Foi esperto e fez o voto dele ter um peso muito grande. Não o considero o adequado ao prêmio, ele usou uma falha minha e abusou do poder matemático que tinha. Vou reavaliar sua participação. Mas não posso mudar o resultado por ter ficado insatisfeito.
Outros premiados incluem “Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra, na categoria poesia; “O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha, na categoria contos e crônicas; “Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo, entre os livros infantis; e “A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende, com obra juvenil. O primeiro lugar de cada categoria receberá R$ 3.500 e um troféu na premiação de 28 de novembro, quando também serão conhecidos os prêmios de melhor livro do ano de ficção e de não ficção.
Confira abaixo a lista dos ganhadores das principais categorias:
Romance:
“Nihonjin” (Saraiva), de Oscar Nakasato
“Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), Edival Lourenço
“Estranho no corredor” (34), de Chico Lopes
Reportagem
“Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), de Miriam Leitão
"O cofre do Dr. Rui" (Civilização Brasileira), de Tom Cardoso
"O espetáculo mais triste da Terra" (Cia das Letras), de Mauro Ventura
Biografia:
“Fernando Pessoa: uma quase autobiografia” (Record), de José Paulo Cavalcanti Filho
"Claudio Manuel da Costa" (Cia das Letras), de Laura de Mello e Souza
"Antonio Vieira" (Cia das Letras), de Ronaldo Vainfas
In memoriam - “Eu vi o mundo” (Cosac & Naify), de Cícero Dias
Contos e crônicas:
“O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha
“O anão e a ninfeta” (Record), de Dalton Trevisan
“O livro de Praga” (Cia das Letras), de Sérgio Sant'Anna
Infantil
“Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo
“O herói imóvel" (Rovelle), de Rosa Amanda Strausz
"Votupira, o vento doido da esquina" (SM), de Fabrício Carpinejar
Juvenil
“A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende
“A guardiã dos segredos de família”, (SM), de Stella Maris Rezende
“As memórias de Eugênia” (Positivo), de Marcos Bagno
Poesia
“Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra
"Vesuvio" (Cia das Letras), Zulmira Ribeiro Tavares
"Roça barroca" (Cosac & Naify), Josely Vianna Baptista
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