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A última arpillera (Angelo Pessoa)

Segue o segundo dos seis textos selecionados no 2º Desafio Escrita Criativa:


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A última arpillera
por Angelo Pessoa (Cordeiro - RJ)

Levaram Ernesto a socos e pontapés
Os gritos de Micaela tornaram-se surdos aos ouvidos dos militares.
Ela nunca mais ouviu a voz do marido.
Então surgiram para buscá-la. Tempos depois.
Micaela nem um pio. As amigas pegaram sua voz e gritaram.
Micaela só fez esconder a agulha na anágua.
Foram dias em sombria masmorra. Comida fria, água porca e estupros.
Em raros fios de luz, cada vez que a porta abria, Micaela pegava a agulha no rejunte das pedras e arranhava a própria pele.
Os covardes se cansaram de inquiri-la.
Levaram-na. Olhos vendados. Ataram seus pulsos e nem notaram o ralo sangue que escorria.
- Fogo!
Micaela virou-se de costas. Não intencionava salvar-se. Queria que lessem arranhadas em seus antebraços as palavras “esperanza” e “libertad”. Sua última e mais dorida arpillera.

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